quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Hard Days

Os últimos dias têm sido uma prova de fogo.
Acordei de manhã com o Land Lord aos berros a pedir o dinheiro pelo quarto do buraco onde vivemos. Como é óbvio todos os estagiários da casa se recusaram a pagar pois é a AIESEC que tem de fornecer alojamento, e no meu caso só tenho de pagar 1000 rupias e já paguei 3500. Por isso, apesar de todos os esforços para explicar que o nosso contrato é com a AIESEC DELHI e não com o sítio onde estamos, ficámos entre a espada e a parede. Ou pagávamos ou tínhamos de deixar o local. Fizemos imensas chamadas a membros da AIESEC DELHI mas foi em vão. Ninguém apareceu e as promessas de um novo alojamento ficaram por terra. Hoje irá ser a 3ª noite que pago para aqui estar.
Acontece que já não se trata de lutar pelos nossos direitos mas sim uma questão monetária. Se pago o alojamento o meu dinheiro literalmente acaba. E não irei, não irei mesmo pedir aos meus pais mais. Por isso, ficarei à espera que a AIESEC devolva o dinheiro que paguei a mais, de modo a conseguir sobreviver à próxima e última semana na Índia.
A minha TN Manager, a Manvi, disse que podia passar a última semana na sua casa. Pois referi-lhe que realmente não tenho dinheiro para pagar a estadia. A Valéria irá viajar pela Índia, porque o nosso estágio acaba esta semana, e eu ficarei por Delhi.
Esta situação de não ter onde ficar, de lutar para ter um simples tecto e dinheiro suficiente para comer, tem-me posto no limite. Tenho a cabeça cheia, sinto-me como uma bomba relógio. É certo que podia pedir dinheiro aos meus pais, mas quero obrigar-me a viver assim. Porque são este tipo de experiências que me vão fazer crescer e dar valor à vida que levava em Portugal.
Confesso que nos momentos de pressão, onde as minhas malas já estavam feitas e tentávamos pedir o máximo de tempo ao landlord (1 hora) para a AIESEC resolver o nosso problema que nunca chegou a resolver, comecei a perder o controlo. A vontade de apressar a minha chegada a Portugal aumentava, e por segundos ia saindo pela porta a fora com o Roman que ia mudar o seu bilhete ao Aeroporto. Respirei fundo e disse: “No Roman. Forget it. Go. I can handle with is”. Na minha opinião não consegui lidar com isto, consegui apenas sobreviver.
Hoje pagámos mais uma noite. Um quarto a dividir por 4 pessoas. Iremos ficar 4 em 2 camas juntas. O Bruno e o Roman mudaram-se para outro sitio.
A 2 semanas de ir para casa, os piores e mais difíceis momentos, tenho-os vivido agora. Nunca ninguém disse que isto ia ser fácil, e eu sempre soube que ia ser duro. E sim, é duro. Mas vai dar-me um gozo enorme viver em Portugal depois de ter vivido em situações limite como estas.
O tempo está passando e tarda nada regressarei. Começo a ficar nervosa. Perdi coisas em Portugal, ganhei coisas na Índia. Eu não sou igual, e a minha vida em Portugal (mesmo eu estando fora) já não é a mesma. Por isso estou um pouco amedrontada com o meu regresso. Não sei se vai ser o famoso feliz regresso à Pátria. Irei estar feliz por ver os meus familiares e amigos como é claro, mas experienciar o meu ambiente de novo poderá ser um novo choque cultural. E acredito que as saudades deste lugar, das pessoas que aqui conheci irão corroer-me bastante. Mas que interessa? Consegui vir à Índia deixar a minha marca, conheci crianças maravilhosas, fiz amigos para a vida e conheci um novo rumo de aspirações e sonhos que irei perseguir arduamente. Pois se há coisa que eu percebi mal aterrei na Índia é que quando se luta pelos sonhos, eles tornam-se realidade.

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